Maya Soetero, a meia-irmã de Barack Obama
No rosto de Maya Soetoro-Ng estão as muitas faces dos Estados Unidos. Ela é filha de uma americana do Kansas com um indonésio, seu marido é um canadense descendente de chineses, e tem um meio-irmão filho de um queniano. Fala espanhol com perfeição.
— Muita gente me pergunta se sou italiana, grega, mexicana, venezuelana. A verdade é que posso passar por qualquer coisa — declarou em uma palestra no Asia Society, em Nova York. Já seria uma vida sui generis por si só. Mas, para completar, o tal irmão afro-americano virou presidente dos Estados Unidos.
A três meses das eleições, com as pesquisas apontando uma disputa acirrada entre Mitt Romney e Barack Obama, a luta por informações de bastidores se intensifica. Depois da mãe, a avó materna, Tutu, e a primeira-dama, Michelle, terem suas vidas devassadas em biografias e reportagens, os holofotes se voltam para a mais discreta figura feminina da vida do atual presidente.
Ela não dá pitacos
Nos últimos meses, Maya está rodando o país dando palestras e participando de eventos eleitorais. Como em 2008, ela deixou as filhas no Havaí, pediu licença do trabalho de instrutora de professores e passou a acompanhar cada passo da campanha do irmão.
— Ele já conquistou muitas coisas no primeiro mandato. Tem uma enorme persistência e capacidade de resolver problemas. Sempre pensei que isso fosse óbvio, e que todos concordassem comigo. Mas a campanha me ensinou que lugares com grande diversidade racial e étnica, como Havaí ou Nova York, onde passei boa parte da minha vida, representam exceções no nosso país.
Doutora em Educação Internacional Comparada, Maya passou parte da vida entre Indonésia, Paquistão, Índia e Estados Unidos, ora acompanhando a mãe antropóloga, ora se dedicando à própria carreira. Apesar dessa experiência, na campanha democrata ela se reserva a uma função que combina pouco com sua eloquência. Na falta de Stanley Ann Dunham, que morreu antes de Obama dar início à carreira política, ela abraçou o papel da mãe. A decisão aconteceu logo depois da posse. Os dois irmãos se encontraram e ela deu início às cobranças. Obama deveria fazer mudanças no ensino elementar, tomar providências mais rápidas em relação ao sistema de saúde, repensar relações diplomáticas. Foi quando ele disparou: “Até você?”. Maya, então, percebeu que poderia contar nos dedos de uma das mãos as pessoas dispostas a ceder o ombro e renunciar à chance de dar pitacos ao homem mais poderoso do mundo.
— Pensei: se ele é generoso o suficiente para dar a vida pela presidência, por que não posso ficar de boca fechada? Tenho apenas de estar perto dele, apoiá-lo, como a minha mãe faria.
Não foge de perguntas
O espírito crítico e a inteligência, no entanto, revelam-se rapidamente fora do seio familiar. Nem quando veste a camisa de cabo eleitoral Maya se abstém das opiniões fortes. Os organizadores da palestra no Asia Society se constrangeram quando alguém da plateia perguntou sobre o embargo econômico a Cuba. Maya, não.
— Espero que logo, logo, possamos dançar a malagueña juntos. Considero Honolulu e Havana cidades-irmãs. Temos vários problemas em comum, como a necessidade de importar alimentos. Atualmente, no Havaí, 92% da comida vêm de outros estados americanos ou países. As fazendas urbanas de Cuba têm muito a nos ensinar — respondeu a meia-irmã de Obama, sem titubear.
Barack tinha nove anos quando Maya nasceu em Jacarta, capital da Indonésia. Ele vivia com a mãe e o padrasto, Lolo, no arquipélago asiático. A diferença de idade estreitou a relação entre os dois.
— Praticamente não brigávamos. Não por minha causa. Lembro bem de, pequenina, ficar na frente da TV em momentos cruciais de um jogo de basquete só para implicar. Mas Barack era mais velho. Me repreendia como um pai o faria. Hoje, o presidente usa essa experiência com as filhas. Malia é três anos mais velha que Sasha e acaba de completar 14, aquela idade em que tudo o que a caçula faz ela considera infantil. Às vezes, Barack me telefona para contar as histórias das duas e rimos muito, lembrando as nossas.
Para participar da campanha, Maya também deixou para trás a divulgação de seu livro infantil, “Ladder to the Moon” (Escada para a Lua, sem tradução em português), e o projeto de uma segunda obra, sobre resolução de conflitos em escolas do ensino médio. A violência entre estudantes causada por diferenças étnicas é uma de suas preocupações. Ela aprendeu espanhol quando era professora em colégios onde a maioria dos estudantes tinha origem latino-americana.